domingo, 27 de março de 2011

história de preto velho


Preto velho acendeu o cachimbo e contou.
O sol estava a pique e fazia com que nosso suor brotasse da pele sem parar. A lida com o café era nosso trabalho e mesmo diante do açoite nois não parava de cantar. Acredito que era a forma que nois encontrô de não sentir o cansaço e a dor no lombo. Aquela imensidão de café plantado era lindo de se ver, e o cheiro das flôr em meio o verde, era algo quase divino. Naquele dia o reio comia solto, porque cinco negros tinham sumido, e o pior que eram os que mais força de trabalho possuiam. Fim do dia o capitão deu o aviso: Se os negros não voltasssem na manhã do dia seguinte, ao nascer do sol, todos iriam levar no lombo e nem as negras seriam poupadas. Naquela noite de angustia nois sabia que devia fazer algo, então fizemos uma gira para consultar os Orixas, e lá pelas tantas os enviado de Oxalá baixaram no terreiro, e disseram que deveríamos tocar os atabaques como nunca fizemos antes e que o som das corimbas não deveria ser interrompido por nada desse mundo. No meio da mata, o nego Irineu, a frente dos outros quatro irmãos, tentavam achar o caminho da senzala. Tinham se enfronhado na mata e passaram o dia todo andando as voltas sem encontrar a trilha perdida. O sol já quase se escondia, e cansados pararam a beira de um riacho para tomar água, quando muito longe eles ouviram batidas de curimba. Irineu saltou da pedra em que repousava e gritou: Eu conheço esse som!, vamos seguir as batidas!. E assim fizeram. Guiados pelo som dos atabaques, finalmente encontraram o caminho de casa. Quando em festa eram recebidos, os Orixas subiram e com Eles nossos Guias de amor, foi então que notamos que as corimbas estavam manchadas pelo sangue de nossas mãos.
Meus queridos filhos!
Quantos de vocês não estão nessa hora perdidos na mata, sozinhos, sem esperança de encontrar a trilha que levaria de volta a vida!
Como o Negro Irineu, devem seguir os som dos atabaques. Devem persistir em ouvir o som que vem de muito longe e fala ao vosso coração. Por fim, quando encontrarem o caminho de volta e chegarem até as corimbas, não se surpreenda se o tabaqueiro estiver com as mãos sangrando e usando uma corôa de espinho. - PAI GUINÉ


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